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Antracite é uma ode a Twin Peaks e eu posso provar, ou quase

Acabei de assistir à nova série Antracite em duas sentadas (16-17/04/2024), e achei a linguagem bastante fluida e divertida, conectada e moderna, e não deixou a desejar no quesito de homenagem ao grande evento que foi Twin Peaks desde a década de 1990. Vou tentar estabelecer algumas relações aqui para nos divertirmos um pouco. Para começar, é preciso fazer algumas revelações, ou seja, haverá SPOILERS para ambas as produções, portanto, vá com cuidado e boa sorte. Antracite ocorre em uma cidade chamada Léviona, onde os habitantes a chamam de aldeia. Assim como Twin Peaks, Léviona tem uma placa icônica em sua entrada que diz "Paraíso na Terra". Essa placa, assim como a famosa placa de Twin Peaks, destaca a importância do ambiente, que é mais significativo do que parece. Ambas as produções usam o cenário como metáfora, uma espécie de cebola que, à primeira vista, parece bonita e simples, mas à medida que você vai retirando as camadas, ela fica mais ácida, putrefata e amarga, faze
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Poema de sete outras faces

Quando nasci um anjo torto desses que vivem na sombra disse: vai, Carlos, ser gauche na vida Eu olhei em volta, mas eu estava sozinha, Então, nadinha eu entendi. As casas espiam os moleques que batem a bola no meu portão, A tarde talvez fosse azul se eu não tivesse me tornado a bruxa do setenta e um O monotrilho passa cheio de pernas pernas brancas, pretas, amarelas é no que acredito, pois é muito rápido e já não enxergo bem sem óculos! Passando dos quarenta, é ladeira abaixo! A mulher atrás do bigode é sisuda, complacente, tem tiques fala mais do que deve tem poucos, raros amigos A mulher atrás dos óculos e do bigode  Meu Deus, porque me abandonaste? Se sabias que eu não era Deus Se sabia que eu era fraca Dívida, dívida, vasta dívida se eu não estivesse lívida passaria de mera rima a uma solução dívida, dívida, vasta dívida glórias ao crédito no meu cartão! Eu não devia te dizer mas essa lua mas esse gin com TNT da lata branca Botam-me pra dançar até com o diabo!   18/4/2023

Manderlay, de Lars Von Trier sob a ótica do contrato social e da cerca de chesterton

Recentemente eu tive a oportunidade de assistir ao filme Manderlay de Lars Von Trier, que é continuação do filme  DogVille , mantendo a personagem Grace, filha do gangster, em que eles estão passando pela fazenda Manderley, após sair de Dogville, um resumo que está no google é este  “Em 1933, uma jovem mulher chamada Grace e seu pai descobrem uma fazenda no Alabama, cujos habitantes vivem como se a escravidão nunca tivesse acontecido. Sentindo a necessidade de ajudar estas pessoas, Grace tenta libertá-las. Com quatro colegas de seu pai e um advogado, ela enfrenta a difícil tarefa de reconstruir o lugar conhecido como Manderlay.”   Na obra encontramos uma conversa direta com um conceito que eu também descobri recentemente, ao qual eu pedi para que perplexity definisse para nós:  O conceito da "Cerca de Chesterton" é uma regra simples que sugere que nunca se deve destruir algo, mudar uma regra ou alterar uma tradição sem entender completamente o motivo por trás da sua existênc

A demanda

16/3/24 Quando eu nasci  Um anjo torto disse  "Vai, Carlos! Ser gauche na vida!' Mas eu chamava Laura  E era 1982 Não é tentar o suicídio  Querer andar na contramão,  A solidão na multidão  tem calor cheio de frio,  E eu penso em suicídio, de novo, Mas no fundo eu nem ligo. As sirenes sofrem o efeito doppler Enquanto estou sentada na guia, sou paralela,  O agora é depois da festa dos outros:  O Bob fala do Bobby, de trás pra frente. A herança é da avó paterna  Inês, digo, Laura é morta,  Eu deveria ser Laura Neta,  Mas, como um succubus, mulher não herda.  Sou Dias, dias de luta,  Dias de barulho incessante e lancinante. É assim: COSMO AUDIÇÃO: eu entendo o mundo através das faltas e do desespero.

A flor no asfalto

Por que eu sou parte ódio e por que eu sou parte amor, esse poema é para Frida e para Drummond, mas vem da minha mãe 15 mar 2024 É preciso amar demais para permanecer.  A capacidade de mar transcende a cais  E a efemeridade está na nau do ser Navegar é subterfúgio,  Resistir é o real poder:  Enquanto no útero há o refúgio A promessa na semente é perene. Quantas vezes será necessário atravessar o portal?  Quanto tempo leva uma vida  Até que se possa enxergar o reflexo na água  Da proa ao céu, da proa ao mar, Ao aportar, sem que se encare o mar,  De cais a cais, sem despertar de sonhos,  Homem a homem negocia a alteridade,  Capitaliza os afetos, como se dispõem em esteiras. A efemeridade dá um preço a todo valor,  A efemeridade flerta com o suicídio,  A efemeridade padroniza a sua cara A efemeridade faz de todos princípio masculino,  Aportado, ainda é preciso amar demais para permanecer.

Uma viagem à liberdade do eu em "A paixão segundo G.H.", de Clarice Lispector

Em dezembro de 2023 eu fiz a leitura da obra, a qual posterguei, como fazemos com algo por motivos diversos que nem sempre faz sentido. E a hora foi boa, pois eu estava com a cabeça certa para a leitura que fiz. Há diversas perguntas que eu não consegui responder, por exemplo, o que é que correspnde a G.H., ainda paira em mim e se você souber, me conta. Mas o que descobri foi que se eu podia esperar surpresas, a maior era a de encontrar uma viagem de cunho tal qual as de obras de ficção científicas renomadas, e de um olhar aguçado com temáticas maiores da época e que vicejam a mulher de modo que a autora faz uma compreensão de aspectos que só sua prosa poderia A protagonista está sozinha na sua cobertura, tal qual Deus, criando suas obras na massa de pão, num lugar asséptico e solitário, e cria ali o seu aporto sobre as conjecturas de si através das relações com os outros. Parte entao para a limpeza do que tem certeza que será o único lugar sujo da casa, o quarto da emprega

Cesar Aira e o absurdo em "Como me tornei freira"

Se você já viu literatura nonsense, sabe que lidar com o absurdo está para a comédia e a fantasia de um modo que faz o seu cérebro dar uma certa expandida, e às vezes num sentido bom e às vezes nem tanto. O fato é que para desenvolver sinapses no cérebro, precisamos desafiar a nossa mente, aprendendo com livros que tragam realmente propostas de aprendizagem, livros que sejam da nossa prática e que gostemos e livros que mexam com nosso lugar no mundo, fazendo a gente questionar, inserindo novas imagens na nossa cabeça, sejam imagens literalmente, aquelas que vemos para quem consegue ver imagens na mente, ou aquelas que ficamos discutindo com nosso eu interno durante a nossa vida, ressignificando. O nonsense mexe com a gente de um jeito que perdura, afinal, "Alice no país das maravilhas", um grande modelo do absurdo, perdura pelas possibilidades que ele gera, principalmente pelas suas capacidades de geração a geração. É como usar um elemento de paraíso artificial, que cada vez